De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o maior número de startups no país está concentrado nos estados de São Paulo (41%), Minas Gerais (12%) e Rio de Janeiro (9,7%). Entre as capitais, destacam-se em números absolutos São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mas quando se considera a proporção de startups em relação ao número de habitantes, Florianópolis desponta na liderança.
O estado de Santa Catarina alcançou a liderança no número de startups, empresas de inovação e base tecnológica. Dados divulgados esta semana pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) mostram que a região abriga atualmente mais de 16 mil empreendedores e o número de empresas de tecnologia subiu 3,42% entre 2015 e 2017. Considerando os últimos 30 anos, o crescimento foi de 10.000%, segundo o panorama divulgado pela entidade.
A densidade de startups na capital de Santa Catarina é quase dez vezes maior do que na capital paulista. Em seguida, figuram outras cidades catarinenses, como Chapecó e Joinville. Segundo a Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) , o setor tecnológico já representa 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado, com um faturamento de R$ 15,5 bilhões.
“A região tem um histórico grande na área da tecnologia de informação, principalmente. Tem uma boa rede de universidades na área de tecnologia e um dos melhores IDHs [índices de desenvolvimento humano] do Brasil, então, atrai muita gente qualificada com experiência, numa região onde cresceram muitas empresas de tecnologia nos últimos 20 anos”, explica Matos.
Por ser uma ilha, onde não podem ser instaladas indústrias devido à limitação de espaço, Florianópolis deu uma guinada para o mundo do empreendedorismo e se consolidou como um dos pólos de inovação tecnológica do país e já vem sendo chamada de um dos vales do Silício brasileiro, em referência à região dos Estados Unidos que concentra as grandes empresas norte-americanas de tecnologia.
O desempenho de Florianópolis atraiu para a cidade o primeiro grande evento nacional do setor, o Startup Summit, realizado nos últimos dias 12 e 13 de julho. Mais de 2.300 inscritos participaram do encontro, entre palestrantes de diferentes empreendimentos e representantes de instituições que trabalham pelo desenvolvimento de políticas favoráveis ao mercado de startups.
“A gente não tinha eventos dessa magnitude voltado só para startup e empreendedorismo, principalmente fora do grande centro, no caso São Paulo. É a primeira vez que isso acontece. É uma demonstração de como o setor vem crescendo”, afirmou Felipe Matos, um dos empreendedores pioneiros de startup no Brasil e integrante do movimento Dínamo pela articulação de políticas públicas para o setor.
Para o presidente do Sebrae Nacional, Vinícius Lages , o evento representa um momento de maturidadedo setor. “O Brasil acabou de ganhar algumas posições no Global Inovation Index 2018 [ranking mundial de inovação]. A política de inovação foi também modificada para permitir que, por exemplo, organizações como a nossa participem com encomendas tecnológicas, tenham uma atuação maior. Estamos longe ainda do que outros países construíram, tem uma outra metade que precisa ser desenvolvida, mas posso dizer que o copo está meio cheio”, analisou Lages.
Soluções que deram certo
A primeira tentativa de abrir uma empresa, ainda no início dos anos 2000, não deu certo para o catarinense Eric Santos. Depois de seis anos tentando desenvolver diferentes produtos na área de telefonia celular, Eric percebeu que o negócio não escalonou, mas rendeu experiência para futuras oportunidades.
Ele fechou a primeira empresa e passou a trabalhar em algumas startups, até que, em 2011, retomou a ideia de empreender e abriu a Resultados Digitais (RD), startup de marketing digital que se tornou referência nacional na oferta para grandes empresas de ferramentas tecnológicas de conquista de clientes, entre outros produtos.
A empresa surgiu há sete anos, praticamente junto com o conceito de startup no Brasil. Hoje, a RD tem mais de 600 colaboradores trabalhando em uma sede própria, atende a mais de 10 mil clientes no Brasil e em outros 20 países e tem parceria com mais de 1.500 agências de negócios.
Além do investimento em educação na área de marketing, por meio de palestras, eventos, distribuição de conteúdo, a empresa cresceu apostando em talentos. “Uma das coisas que nós conseguimos fazer é criar uma escolinha para atrair talentos para dentro do time, formar, desenvolver a parte técnica, intelectual e ajudar essas pessoas a continuar crescendo. Boa parte dos líderes da empresa são pessoas que entraram há 4 ou 5 anos e cresceram junto com a empresa. Vários começaram a fazer outras iniciativas, a empreender ou participar de outras coisas e a gente está vendo que isso vai plantar várias sementes e frutos serão colhidos ao longo dos próximos anos”, comenta Eric.
Outra startup catarinense que ganhou o mercado nacional e atravessou as fronteiras do país foi a Agriness, que atua há 17 anos no setor de suinocultora. A empresa encontra soluções tecnológicas de gestão e melhoria de produtividade para produtores de suínos. Atualmente, a Agriness atende a 90% do mercado brasileiro de suínos, 50% do mercado da Argentina e já tem entrada em outros países das Américas. A expectativa da startup é que o negócio cresça ainda mais, considerando a grande demanda por alimentos no Brasil e no mundo.
“As agrotechs [startups na área da agricultura] estão entrando em alta agora, o que eu tenho visto mais são empresas e financiadoras privadas interessadas em aportar, em investir. Esses momentos como este aqui [Startup Summit] é que acabam aproximando as agrotechs e gente que tem os mesmos interesses. Mas, acho que o Brasil ainda precisa de políticas mais bem estruturadas”, disse Cristina Bittencourt, cofundadora da Agriness.
Outras regiões
Além de Florianópolis, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Recife, Fortaleza e Campinas estão na lista das dez cidades com mais startups do país. A região Norte também apresenta alguns casos consolidados, como o da startup Só Arquivos, que atua há dez anos no segmento de guarda e gerenciamento de documentos de grandes empresas.
“Estamos buscando aqui no Startup Summit poder participar e ingressar num segmento novo, além do conhecimento, a educação e a oportunidade de gerar parcerias também. Nós achamos muito interessante a abertura que existe em Santa Catarina, o ecossistema daqui, um entendimento bom de cooperativismo, de trabalhar em rede que a gente não vê em outros lugares. É um exemplo até pra ser levado para nosso estado também”, comentou a empresária amazonense Rosely Campos.
Fonte: Exame
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