startups e industrias

A atualização tecnológica da BRF para atingir os padrões tecnológicos da indústria 4.0 passa por uma série de projetos-piloto envolvendo novas tecnologias.

A empresa do setor de alimentos vem experimentando sensores para medir a temperatura da carne quando ela é congelada, software para que técnicos recebam instruções de especialistas remotos para fazer ajustes em máquinas usando óculos de realidade virtual e serviço de análise de informações de sua produção.

Nada disso ela criou sozinha. Também não contratou os serviços de uma multinacional. Para se aproximar de novas tecnologias, firmou parcerias com as startups brasileiras PackID, GoEpik e Birmind.

Indústrias que adotam o serviço de empresas como essas afirmam se beneficiar da flexibilidade das novas companhias para testar e aprimorar seus serviços rapidamente até se ajustar às necessidades de quem as contrata.

“As startups nunca vão ter uma solução totalmente pronta para você. O que precisamos fazer é montar um time com profissionais das duas empresas, apresentar meu conhecimento de processo industrial, para que as coisas sejam adaptadas em conjunto”, afirma Cyro Calixto, especialista em engenharia industrial da BRF.

Um exemplo de criação em conjunto do tipo ocorreu na parceria entre a multinacional 3M e a startup Trackage.

A primeira, que atua em áreas como itens para consumidor final, máquinas para indústria e saúde, esperava se unir à novata para oferecer serviço de controle logístico para seus clientes.

Porém, durante o trabalho com a startup, percebeu que seria melhor ser ela própria a cliente do serviço.

A partir de outubro, a Trackage oferecerá painéis que informam o desempenho do setor da expedição da 3M, indicando, levando em conta informações obtidas por objetos conectados à internet, que pedidos foram carregados, para onde, com que transportadora e se há algum atraso que precisa ser resolvido.

“Trabalhar com startup não é uma compra de serviço pronto. Trouxemos eles aqui para desenvolver uma ideia”, diz Camila Cruz, diretora de pesquisa e desenvolvimento da 3M para o Brasil.

A relação entre elas começou a partir do Conexão Startup Indústria, programa da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) que reuniu startups e grandes empresas em projetos patrocinados pela agência.

Fábio Rodrigues, sócio da Novidá, também aponta como vantagem das jovens empresas a capacidade de adaptação dentro do campo de conhecimento no qual a companhia é especialista.

Sua startup tem tecnologia que estuda a eficiência de processos industriais a partir do uso de inteligência artificial para analisar o tempo que cada pessoa e aparelho ficam em cada localização.

Para isso, pode usar aparelhos como sensores, etiquetas com radiofrequência ou smartphones e beacons (dispositivos que enviam sinal bluetooth).

O serviço foi contratado pela siderúrgica Gerdau. A principal motivação para a adoção dele foi a possibilidade de identificar rapidamente a presença de pessoas em áreas de risco na fábrica.

Apesar do interesse das indústrias por startups estar em alta, Bruno Rondani, idealizador do programa 100 Open Startups, de aproximação entre grandes empresas e iniciantes, considera ainda haver desafios no relacionamento entre os dois universos.

Ele diz que estão ocorrendo muitas provas de conceito e testes de tecnologias, por vezes com as startups oferecendo a experiência de graça ou a preço baixo para tentar conquistar os primeiros clientes.

Porém há o risco de que, mesmo havendo intenção da grande empresa por contratar a startup, a companhia mais jovem não tenha estrutura para levar seu serviço para toda a indústria contratante.

Além disso, o segmento industrial recebe poucos investimentos de fundos especializados em suas startups, e poucas empresas estão dispostas a assumir esse papel, o que torna o ganho de escala dessas companhias mais difícil, afirma Rondani.

Outro desafio para as startups do setor é o longo tempo necessário para fechar negócios com uma grande companhia. As conversas podem levar até um ano, diz Marcio Mariano Junior, diretor do comitê de indústria da ABStartups (associação do setor) e sócio da empresa Forsee.

“Com isso, os investidores ficam em dúvida se é possível fazer uma startup industrial ganhar escala. Mas precisam considerar que, quando a venda para uma empresa acontece, o valor é muito maior do que quando se vende para consumidores.”

Fonte: Folha de São Paulo

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