Há uma nova geração de criaturas mágicas se preparando para dar as caras no Brasil: segundo estudo feito pelo centro de inovação Distrito Fintech e pela consultoria KPMG há pelo menos dez startups nacionais que podem em breve se tornar unicórnio – empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão no mercado. São elas: Creditas (crédito), Neoway (big data), ContaAzul (contabilidade), Ebanx (pagamentos), Grow (mobilidade), Resultados Digitais (marketing digital), VivaReal, Quinto Andar (ambas de serviços imobiliários) CargoX e Loggi (entregas).
É um grupo mais diverso, seja em setor de atuação ou local de origem que os atuais unicórnios brasileiros – no estudo da Distrito, apareceram com tal status 99, Nubank, iFood, Stone, Arco Educação e Gympass, ficando de fora o PagSeguro e a Movile, que controla o iFood.
Outro destaque é a quantidade de empresas relacionadas a serviços financeiros, sejam fintechs ou de áreas próximas, como contabilidade. “É natural porque é um setor que tem crescido muito no Brasil”, afirma Gustavo Gierun, cofundador do Distrito – segundo estimativa do centro de inovação, há cerca de 800 fintechs no País.
O espanhol Sergio Furio, presidente da Creditas, não gosta do termo “fintech”. Para ele, os bancos sempre foram empresas de tecnologia. No Brasil desde 2012 realizando empréstimos pessoais a partir de garantias como automóveis e imóveis, ele comemora os números: no ano passado, a receita da Creditas subiu cinco vezes. Hoje, a empresa tem 600 funcionários em São Paulo – três quartos deles, na área de tecnologia – e pretende chegar a mil até o fim do ano.
Além de atender a mais usuários, o time da Creditas vai crescer também para refinar os serviços de inteligência da empresa – um exemplo citado por Furio é a criação de algoritmos que analisam documentos, por exemplo, para avaliar risco de ações trabalhistas em um CNPJ atrelado a quem toma um empréstimo. “Temos de fazer um produto superior de análise de crédito para bater os bancos”, diz Furio.
A empresa também planeja realizar uma nova rodada de investimentos este ano e levantar em torno de R$ 500 milhões. Furio diz, porém, não ligar para o status de potencial unicórnio. “Não divulgamos nossa avaliação de mercado e queremos existir daqui a 40 anos”, afirma. Para Gustavo Gierun, do Distrito, é um raciocínio que faz sentido: “Ser um unicórnio não diz nada, o que importa é fazer produto que mude a vida das pessoas.”
Fora do eixo. Para chegar à lista de empresas, o Distrito preparou uma seleção com 20 startups que chamaram atenção no mercado recentemente. Depois, reuniu 36 especialistas no setor, entre investidores, fundos, aceleradoras e grandes empresas ligadas à inovação para votar naquelas que mais se destacavam, chegando ao grupo final.
Com exceção da Grow, joint venture de bicicletas e patinetes elétricos entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin, todas as companhias listadas no estudo foram fundadas antes de 2019. “Não são negócios que se constroem da noite para o dia”, afirma Rafael Ribeiro, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). “É um aspecto presente em startups que prestam serviços para empresas, no qual é preciso ter mais credibilidade para conquistar clientes.”
Um bom exemplo disso é a Neoway, veterana da lista: fundada em 2002 pelo catarinense Jaime de Paula, a startup usa inteligência artificial para auxiliar empresas a crescer. “Conseguimos analisar a base de clientes de uma indústria e saber se eles podem vender mais ou avisá-los quando novos clientes surgirem”, diz de Paula.
Com 500 funcionários – dos quais 350 estão em Florianópolis e o restante dividido entre escritórios em São Paulo, EUA e Portugal –, a Neoway tem crescido a 50% ano ao ano, nas últimas cinco temporadas.
Em 2019, se prepara para um salto: quer fazer aquisições de pelo menos três empresas, antes de chegar à bolsa de valores. “Ainda estamos conversando para entender se vamos abrir capital no Brasil, na Nasdaq ou nos dois mercados”, diz.
Para ele, ter a base em Florianópolis ajuda a encontrar talentos e a reduzir custos, mas ter presença em São Paulo é fundamental. “Nossos clientes estão na capital paulista, se ficássemos só em Floripa não venderíamos nem picolé”, afirma.
Nascida fora de São Paulo e com foco corporativo, a Ebanx, de Curitiba, tem perfil parecido. Criada em 2012, a empresa processa pagamentos para serviços localizados fora do País, como Airbnb, Spotify e Wish. Em 2018, chegou à marca de 500 funcionários e mais de US$ 2 bilhões processados em pagamentos. A empresa criou uma solução, com aval do Banco Central, para fazer conversão de forma imediata; em troca, fica com 3% a 5% do valor dos pedidos, como praxe no mercado.
Para João del Valle, diretor de operações e cofundador da Ebanx, ser avaliado como potencial unicórnio é “consequência do trabalho” – ele prefere se orgulhar de ajudar a capital paranaense a estabelecer um polo tecnológico de startups. “Temos orgulho de trazer profissionais de fora para Curitiba”, diz.
Para Ribeiro, da ABStartups, ver empresas bem sucedidas fora dos grandes centros se tornará comum. “Há oportunidades em cidades afastadas”, diz. “A descentralização é benéfica.”
Fonte: Estadão
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