startups Florianopolis Rappi

Quando a investidora estadunidense Aileen Lee criou o termo unicórnio para se referir às empresas de tecnologia que alcançam o valor de mercado de US$ 1 bilhão, talvez ela não esperasse que, cinco anos depois da invenção do termo, cerca de 270 startups se enquadrariam nessa condição. Entretanto, um relatório do CB Insights, divulgado na última semana, mostra que apenas em 2018, 53 startups entraram no rol dos unicórnios globais em 13 diferentes áreas de atuação, como mostra o infográfico abaixo reproduzido:

O Brasil tem firmado sua contribuição para o ecossistema de startups emergentes. No primeiro trimestre de 2018, empresas como a 99, PagSeguro e Nubank alcançaram o status de unicórnios. Dentre os fatores que levam essas e outras startups a serem tão promissoras está o amadurecimento dos modelos de negócios e a capacidade de oferecer inovações que suprem as demandas da nova sociedade de consumo.

Mesmo em meio às dificuldades de se empreender no país, a captação de investimentos privados, tanto nacionais como internacionais, tem se mostrado atenta ao potencial das empresas emergentes. Em dez meses, o Brasil conseguiu que seis startups atingissem o valor de mercado de US$ 1 bilhão.

99

Fundada por Ariel Lambrecht, Renato Freitas e Paulo Vera em 2012, a antiga 99Taxi tinha como objetivo ser um aplicativo para facilitar o serviços de taxis no país. Com a chegada da Uber ao mercado, a 99 evoluiu seus serviços para a linha Pop, mantendo forte concorrência com a rival estadunidense.

A 99 foi a primeira startup brasileira a adquirir o status de unicórnio, ainda em janeiro de 2018. A DiDi Chuxing, empresa chinesa de mobilidade urbana, já havia investido US$ 100 milhões na 99 em janeiro de 2017, comprou fatias da empresa detidas por fundos como Qualcomm Ventures, SoftBank, Tiger Global, Riverwood Capital e Monashees, pagando quase R$ 1 bilhão.

Segundo o presidente da 99, Matheus Moraes, de 31 anos, o segredo foi ver os problemas de mobilidade dos cidadãos brasileiros como oportunidade: “A estretégia é oferecer tarifas mais competitivas, com mais lucro para o motorista”, explica Moraes, afirmando que seus funcionários recebem remuneração até 20% superiores às de motoristas autônomos, enquanto seus mais de 14 milhões clientes pagam cerca de 15% menos pelo serviço.

Após a aquisição, a 99 investiu na integração das equipes: a empresa oferta aulas de mandarim aos seus mais de 900 funcionários brasileiros e aulas de português aos integrantes da equipe que vieram da China. Quando questionado sobre o futuro das operações da 99 no Brasil, Matheus Moraes afirma: “Vamos atender moradores de bairros de baixa renda, onde a 99 ainda não é presente”.

PagSeguro

A empresa de pagamentos PagSeguro nasceu em 2006, dentro da UOL que, por sua vez, pertence ao Grupo Folha. Por esse motivo, empreendedores e analistas de negócio questionam se a empresa pode ser considerada uma startup e, portanto, pode ser listada como um unicórnio, afinal, ela começou como braço de um dos maiores grupos de mídia do país.

Entretanto, a trajetória de sucesso da empresa, startup ou não, firma sua importância no cenário corporativo emergente do país não apenas por contribuir para deixar o recebimento de pagamentos mais acessível e barato com suas maquininhas, mas também por seu modelo de negócios focado em inovação tecnológica.

No final de janeiro de 2018, a PagSeguro foi a responsável pela maior abertura de capital de uma empresa brasileira na sua estreia na bolsa de Nova Iorque, levantando US$ 2,6 bilhões. Em seu primeiro dia de negociações, as ações da empresa tiveram aumento de 35,8%. A valorização fez com que a companhia atingisse valor de mercado de US$ 8,99 bilhões.

Na época, a PagSeguro foi vista como uma solução inovadora, não apenas uma processadora de pagamentos. Tal visão foi confirmada quando sua principal rival, a Cielo, após ver a startup obter sucesso com seu modelo de negócios, anunciou a compra da fabricante Stelo, com intuito de também vender maquininhas de cartão, se inspirando no que a PagSeguro fez para garantir a atenção dos investidores. Outra concorrente de peso, a Credicard também se inspirou no jeitinho da startup e lançou o POP Credicard, mirando em taxas mais baixas para atrair o público.

A UOL, por sua vez, demonstrou maturidade e coragem ao desfocar a produção midiática, que já apresentava declínio e não estava rendendo receitas significativas há tempos, e investir pesado no empreendedorismo, mudando completamente a essência de suas atividades para se adaptar às novas demandas do mercado.

Deu certo. Nos resultados financeiros do segundo trimestre de 2018 da PagSeguro aparece o lucro líquido de R$ 227,6 milhões, alta de 176,8% em comparação com o período de abril e junho de 2017 e muito acima das expectativas já otimistas dos investidores. A receita líquida foi de R$ 1 bilhão. O número de terminais também foi uma surpresa positiva: se eram 8,1 mil em 2017, este ano já somam mais de 16,8 mil unidades. Com a divulgação dos resultados, as ações da PagSeguro na bolsa de Nova Iorque dispararam quase 12%.

No final de agosto, a empresa comentou que os seus planos para o futuro incluem a abertura de linhas de crédito para empréstimos pessoais e para microempreendedores. Essa decisão é consoante com a compra da fintech Biva por mais de R$ 11 milhões pela PagSeguro, no final de 2017, ainda antes de fazer seu histórico IPO em Nova Iorque.

Nubank

Criada com o intuito de servir à demanda por serviços financeiros mais rápidos e menos burocráticos, a Nubank anunciou em março ter se tornado unicórnio, se firmando como o banco digital com mais clientes fora da Ásia, após novo aporte, liderado pelo fundo DST Global, do investidor russo Yuri Milner, de US$ 150 milhões na série E. Foi a sexta rodada de investimentos da fintech desde sua fundação, em 2013.

Com mais de 3 milhões de clientes com seus cartões de crédito roxos em território nacional, o aporte servirá para que a fintech acelere sua transformação em um banco digital completo. Segundo David Vélez, presidente executivo do Nubank: “ainda crescemos a uma velocidade rápida com o cartão e queremos lançar novos produtos”. Além de oferecer contas-corrente, a empresa quer expandir para as linhas de crédito e investimentos, firmando sua competência para avançar em um mercado que ainda é 90% controlado por instituições financeiras tradicionais.

O financiamento também servirá para suprir a crescente demanda pelos cartões de crédito roxos: à época do sexto aporte, mais de 13 milhões de cidadãos brasileiros já haviam solicitado o produto, mas a startup só pode emitir cerca de 20% dos pedidos feitos. A aposta conservadora tinha como objetivo proteger a empresa de inadimplências, ameaça que se suavizou após as rodadas de investimentos.

A expansão chegou aos trabalhadores da empresa: se no final de 2017 o Nubank contava com 750 funcionários, em março, quando a sexta rodada aconteceu, já eram mais de 900 trabalhadores. O modelo de negócios da fintech se firmou como exemplo até mesmo para instituições financeiras tradicionais. A prova disso é o banco digital Next, de propriedade do Bradesco, entre outros que se aventuraram no lançamento de cartões e contas digitais, mas sem a mesma penetração no mercado que o Nubank conseguiu ao estrear as inovações no país.

Diferentemente dos outros unicórnios da manada, como PagSeguro, Netshoes e Arco Educação, o Nubank não tem planos de listar suas ações na bolsa: “Nunca discutimos o tema em reuniões de conselho. É ótimo ser uma empresa privada”, avisa Vélez. “É bom mostrar para os brasileiros que é possível empreender no país, mesmo em setores regulados”, completa o presidente executivo.

No início de outubro, houve a notícia que a gigante chinesa Tencent colocou mais US$ 180 milhões na conta da Nubank, fazendo com que o valor de mercado da fintech chegasse aos US$ 4 bilhões, tornando-a o maior banco digital do mundo. Com 5 milhões de clientes ativos e já expandindo seus serviços da NuConta no Brasil, a expectativa é que a fintech traga inovações da Ásia para o Ocidente, por meio da parceria com a Tencent e a expertise asiática para inovações no mercado digital.

Arco Educação

A Arco Educação nasceu com a missão de “transformar a forma como os estudantes aprendem, promovendo e escalando a educação de excelência”. Segundo a página do Facebook da startup, mais de 405 mil alunos e 1.140 escolas privadas de todo o território nacional são atendidas pela Arco Educação, que utiliza tecnologia como “ferramenta para potencializar tanto a gestão, quanto o processo pedagógico das escolas” com unidades de negócio independentes compondo sua estrutura, ofertando plataformas digitais de aprendizado aos seus parceiros. Dona da plataforma SAS, a Arco também é responsável pela International School, um sistema de ensino bilíngue. A startup detém 5% do mercado nacional de ensino básico privado, mas as perspectivas são de crescimento.

A startup cearense de soluções educacionais foi fundada em 2004 pela família de Sá, mas foi em 2014 que as coisas começaram a tomar ares de grande sucesso, com a chegada da General Atlantic como sócia, detendo 25% do capital. Registrando lucro líquido de R$ 54,3 milhões no primeiro semestre de 2018 e com receita líquida de R$ 195,1 milhões, um crescimento de 43% em relação ao mesmo período de 2017, a ideia inicial dos executivos da família de Sá sempre foi abrir o caminho para lançar sua oferta nas bolsas estadunidenses.

E assim foi feito, mesmo em um momento tão pouco oportuno, visto que as eleições presidenciais colocavam o Brasil sob o olhar de incerteza dos investidores estrangeiros. A Arco Educação se lançou na Nasdaq no dia 26 de setembro de 2018, captando US$ 220 milhões. Com preço inicial de US$ 17,5 por ação, o valor da empresa chegou aos US$ 850 milhões, mas os papéis subiram para US$ 24,4 e conferiram à Arco o título de unicórnio após as avaliações marcarem valor de mercado de US$ 1,18 bilhão, num acréscimo de 34%.

A IPO foi totalmente primária, o que significa dizer que o dinheiro levantado nas negociações — vindos de instituições como Morgan Stanley, Goldman Sachs, Bank of America Merrill Lynch, Itaú BBA, BTG Pactual, UBS e Allen & Co — irão diretamente para o caixa da empresa. O presidente executivo, Ari de Sá Cavalcante Neto, pretende gastar a grana investindo na ampliação dos negócios e em provedores de serviços complementares de seus projetos já instaurados junto às instituições de ensino fundamental e médio particulares.

Stone

A empresa de pagamentos foi fundada em 2013 por Eduardo Pontes e André Street. Contou com acionistas como o Fundo Arpex Capital, de Jorge Paulo Lemann, a estadunidense Madrone Capital Partners, o fundo britânico Actis, a gestora Gávea Investimentos, entre outros nomes de grande peso.

Na última quinta-feira (25), após ensaiar a estreia por cerca de um ano, a Stone finalmente fez sua oferta pública inicial na Nasdaq, superando as expectativas iniciais e precificando seus papéis em US$ 24. Como resultado disso, a empresa captou US$ 1,2 bilhão e passou a ter seu valor de mercado na ordem dos US$ 6,7 bilhões.

A demanda pela pré-reserva das ações foi tão alta que a Stone antecipou o início das negociações, que inicialmente aconteceria na sexta-feira (26). Entre os investidores figuravam grandes nomes, como Warren Buffett, megaempreendedor, e Ant Financial, braço do chinês Alibaba e dono do Alipay, uma das maiores plataformas na área de pagamentos de todo o mundo, que declarou estar disposto a investir US$ 100 milhões.

A Stone, entretanto, não teve sua estreia na Nasdaq em um bom momento: na véspera da estreia (24), a bolsa estadunidense experimentou a maior queda diária já registrada nos últimos sete anos, de 4,43%. Com isso, três empresas brasileiras foram puxadas para baixo: Netshoes agora vale pouco mais de um décimo do que valia no dia de sua IPO, caindo 0,84%; a Arco Educação perdeu 4,3% e também ficou com valores inferiores ao seu preço de estreia; e a PagSeguro foi a única a permanecer com cotação acima do primeiro dia de IPO, registrando perdas de 3,7%.

Brex

A fintech de cartões de crédito corporativos Brex não é um nome tão conhecido no cenário nacional por um simples motivo: apesar de criada por uma dupla de jovens brasileiros, a Brex já nasceu no Vale do Silício, abrindo seu caminho para se tornar um unicórnio de forma sutil, sem alarde. Seus fundadores, o carioca Pedro Franceschi e o paulista Henrique Dugubras, têm apenas 22 anos de idade e conseguiram uma proeza pra lá de invejável: fazer a empresa sair do zero e alcançar o valor estimado de US$ 1,1 bilhão em menos de dois anos de existência.

Rebentos da cultura hacker brasileira, ambos estrearam na Tecnologia da Informação durante a pré-adolescência: Dugubras aprendeu a programar para manter seu servidor de jogos, aos 12 anos; enquanto Franceschi foi responsável por hackear a Siri, do iPhone 3G, permitindo que a assistente pessoal da Apple se comunicasse em português antes que o recurso fosse ofertado oficialmente pela Maçã.

Ambos levaram a sério os aprendizados de programação e mantiveram o foco nos negócios durante a adolescência: em 2013, após se conhecer por meio do Twitter, a dupla fundou a Pagar.me antes mesmo de terminarem os estudos do Ensino Médio — c(om investimento semente de US$ 1 milhão do Arpex Capital, controlador de marcas como Burger King e Heinz.

Três anos depois, contando com mais de 100 funcionários, a Pagar.me foi adquirida pela Stone Pagamentos por valores não informados pelas partes. Foi então que os jovens decidiram um recomeço diretamente no coração do Vale do Silício e em 2016 foram estudar na Universidade Stanford. Mas, ao longo de seus estudos, perceberam que os colegas empreendedores tinham dificuldades em obter cartões de crédito corporativo junto às instituições financeiras tradicionais. Isso fez com que a dupla largasse a Universidade e dedicasse seus esforços para cobrir a demanda.

A empresa passou a oferecer versões digitais de cartões em apenas cinco minutos após o cadastro, enquanto versões físicas demoravam apenas cinco dias para chegar às mãos dos empreendedores, sem necessidade de apresentar tantas garantias em comparação ao modelo adotado pelos bancos tradicionais, além de ofertar maiores linhas de crédito. Ao invés de analisar o faturamento, a Brex leva em consideração o histórico dos clientes, seus fluxos de caixa e os padrões de gastos.

Em junho, a empresa já havia levantado US$ 50 milhões junto à aceleradora Y Combinator, mas foi no dia 5 de outubro que a Brex atingiu o valor de mercado de US$ 1 bilhão, após rodada de investimento Série C de US$ 125 milhões, liderada pelos fundos DST Global e Greenoaks Capital.

Os planos da Brex, agora, são de expansão dos serviços: a empresa pretende investir em marketing, contratar engenheiros e conquistar mais clientes no Vale do Silício. Mas segundo declarações à mídia de Dugubras, o Brasil ainda não consta nos planos da Brex: “Os Estados Unidos estão mais amadurecidos nisso, vamos crescer só por aqui por enquanto”.

Fonte: CanalTech

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